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A NOVA CRÔNICA DE NÁRNIA: A ASCENSÃO DA FEITICEIRA [1]

Pr Elton Gomes Lucas

Em uma floresta ao norte de Nárnia vivia a terrível feiticeira branca, que fora trazida para Nárnia – um mundo paralelo ao nosso – pelo menino Digory. Ela comeu um fruto da árvore da eterna juventude e viveu centenas de anos sem envelhecer, mas como tinha comido tal fruto fora do tempo e sem boa intenção, passou a ter pavor daquelas frutas. Digory, então, instruído pelo Leão Aslam, o criador de Nárnia, plantara uma árvore daquele fruto em Nárnia e, assim, a feiticeira não podia se aproximar daquele país. [2]

Em nossa história encontramos a feiticeira cercada de ogres e muitas outras criaturas más que haviam sido banidas das terras a oeste de Nárnia e agora serviam à grande vilã. Sua grande angústia era não poder se aproximar e subjugar Nárnia, a terra que ela viu nascer e sobre a qual sonhava governar.

Naquele dia, Jadis, a grande feiticeira branca, saíra sozinha, como em todas as tardes, para tentar descobrir uma forma de destruir aquela árvore, porém sem aproximar-se da mesma. Há centenas de anos ela fazia isso, sem, contudo, jamais encontrar uma solução. Ela começou a se afastar em direção a um bosque onde jamais havia estado antes. Sentia que era atraída para uma região montanhosa situada além daquele bosque. Como ela não tinha medo de nada, dirigiu-se àquela região para conhecer que magia tão poderosa era aquela que a puxava com tanta força naquela direção. Chegou a uma caverna muito escura e parou à porta, indecisa se tal poder realmente emanava daquele lugar. De dentro da caverna ouviu uma voz potente, que lhe parecia familiar, chamando o seu nome: Jadis!

Jadis perguntou quem falava e a voz respondeu: – você não sabe quem sou eu, mas eu já te conheço desde pequena, quando você ainda vivia no seu mundo, na grande cidade de Charn. Eu sou o grande senhor das trevas e era eu quem te guiava em seu mundo. Fui eu quem te conduziu até a palavra certa que destruiu todas as coisas vivas do seu mundo. E agora, te nomeio a minha representante nestas terras, e a minha guerreira contra o Leão e contra Nárnia. Passo-te o meu poder e meus direitos sobre as criaturas, inclusive o direito sobre todos os traidores. Pela lei, todos os traidores são presas minhas e agora serão suas.

Jadis retrucou: – mas como guerrearei contra Nárnia, se aquela árvore não me deixa sequer aproximar daquele país?

– Vê aquela montanha branca, a mais alta, à sua direita. – disse a voz da caverna. – Se você puder contornar a sua base e passar por uma estreita passagem entre a montanha e o abismo, você encontrará uma caverna guardada por um dragão. Você dirá ao dragão que o grande senhor das trevas te enviou e ele te deixará entrar. Lá dentro, encontrará um grande livro fechado. Este é o grande livro da magia negra. Dentro dele você encontrará a chave para libertar três espíritos poderosos que estão presos no abismo à frente da caverna. Eles te ajudarão a encontrar a forma de destruir aquela árvore. Ainda na caverna está uma pequena vara, a qual, se ativada por um encantamento que também está no livro, te dará poder para transformar em pedra qualquer criatura de Nárnia. Há outros encantamentos úteis no livro, como aquele que te dará poder para mudar os tempos em Nárnia e fazer com que seja sempre inverno naquele país e que o natal jamais chegue.

Jadis partiu então em direção da montanha branca. Ela caminhou um dia e uma noite por um caminho difícil, cheio de pedras e obstáculos, até chegar à pequena passagem entre a caverna e a montanha. Uma criança pequena e magra teria muitas dificuldades de passar por aquele obstáculo e Jadis era bem mais alta que um humano comum. Ela pensou em desistir, mas se lembrou do seu sonho de conquistar Nárnia e prosseguiu. Por três vezes chegou a pensar que cairia no grande abismo, mas após muito esforço ela conseguiu atingir a entrada de uma caverna escura. O dragão se aproximou para ver quem tinha a coragem e a ousadia de tentar entrar em sua caverna, todavia, antes de usar suas potentes labaredas de fogo, Jadis gritou: – Venho em nome do grande senhor das trevas para buscar o grande livro da magia negra. O dragão respondeu: – quem é enviada pelo meu senhor, tem livre acesso em minha caverna.

A feiticeira entrou na caverna e, guiada pelo dragão, encontrou o livro e a vara. O dragão soprou sobre uma grande vela, iluminando o compartimento onde Jadis estava. Ela não saberia dizer quanto tempo passou lendo aquele livro e extasiada com a magia contida ali. Magia muito mais antiga que Nárnia, muito mais antiga que ela própria, mais antiga ainda que todos os mundos. Ao perceber, entretanto, que a vela se apagava, viu que era hora de deixar o reino do dragão e se dirigir para o grande abismo. Utilizando um encantamento aprendido no livro, chegou a uma saliência na parede do abismo, já uns duzentos metros abaixo do nível da caverna do dragão. Lá ela pronunciou palavras indecifráveis em nossa língua e ouviu o barulho de grandes correntes que se partiam em um lugar muito abaixo de onde ela estava.

Tudo aconteceu muito rápido. Quando Jadis deu por si, ela já estava no alto de uma grande montanha, levada por três espíritos poderosíssimos. Oh grande feiticeira que nos libertou – ouviu de um deles. O que podemos fazer por você? Jadis contou sobre seu encontro com o senhor das trevas e sobre o livro da magia negra. Um dos espíritos respondeu que eles eram servos do grande senhor das trevas e que estariam a serviço da sua representante. Outro afirmou que iriam instruí-la sobre como agir em relação à árvore. O terceiro disse que o maior inimigo – os filhos de Adão – eram também os maiores aliados.

Jadis voltou à sua casa junto com os três novos aliados e gritou para os ogres: – Agora Nárnia será nossa! O plano dos três espíritos foi logo exposto aos servos da feiticeira: Nenhum deles poderia se aproximar daquela árvore e nenhum dos animais falantes de Nárnia, ainda que se aliassem à revolução, não teriam coragem de tocar na “árvore sagrada”, mas os homens poderiam ser enganados e destruiriam a árvore. Uma vez destruído o que os afastava de Nárnia, eles marchariam contra o país do Leão e o conquistariam. Os espíritos tinham a certeza de que encontrariam aliados entre os animais falantes e outras criaturas e que os demais seriam subjugados pelo medo.

Um dos espíritos falou: – Entre os primeiros descendentes do rei Franco – o primeiro rei de Nárnia – havia um homem chamado Cam, que se tornou nosso aliado, mas foi banido do reino, junto com sua esposa Jezabel. Eles foram para o sul e formaram uma raça que nos é fiel: os calormanos. Eles poderão nos ser úteis. Entre eles também existem mulheres que aprenderam a arte da magia e se tornaram grandes feiticeiras. Jadis afirmou que gostaria de ter algumas destas feiticeiras como suas aliadas, mas quanto aos homens calormanos, ela preferiu descartá-los, pois ainda que fossem aliados no início, logo buscariam formas de derrubá-la e tomarem para eles o poder.

Elaborada toda a estratégia de guerra, Jadis encarregou um dos espíritos de descobrir um homem narniano que poderia ser seduzido e enganado para destruir a árvore. O espírito se dirigiu para Cair Paravel – o palácio dos reis de Nárnia, os legítimos descendentes de Franco I, o primeiro rei de Nárnia. Encontrou o palácio em festa, celebrando a coroação do rei Juvenal, tetraneto do rei Furacão, o grande libertador das ilhas solitárias. Ao mesmo tempo se celebrava o casamento do rei com Soraia, a mais bela rainha desde Cisne Branco, que era tão linda que, ao se mirar em um lago da floresta, o reflexo do seu rosto permanecia resplandecendo nas águas durante um ano e um dia. [3]

Há muito tempo Juvenal estava apaixonado por Soraia, mas ele havia adiado o casamento, por saber que a ambiciosa noiva não agradava ao rei, seu pai. Morto, porém, o rei, não havia mais razão para ele renunciar ao grande amor.

O espírito chegou a tempo de presenciar a conversa de dois grandes centauros, ocupantes de altos cargos no governo narniano. Um dos centauros revelava sua preocupação com o futuro reinado, pois considerava Juvenal um jovem irresponsável, que, ainda por cima, se casara com uma moça perigosa, que, em sua ambição, não titubearia em fazer o que fosse preciso para aumentar o seu poder. O outro centauro suspirava: – Se ao menos o jovem Rafael fosse o primogênito do rei…

O espírito retornou à Jadis muito satisfeito com sua descoberta, pois havia encontrado o casal ideal para ser enganado e, sendo eles os líderes de Nárnia, ninguém os impediria de se aproximarem da árvore. Restava aguardar o momento apropriado. Enquanto isso, reuniram um grande número de feiticeiras e foram treinando o exército de ogres.

A oportunidade surgiu em um dia de verão que o rei e a rainha saíram a sós para tentarem caçar o grande veado branco, que trazia consigo a satisfação de todos os desejos de quem o apanhasse. Na ânsia de não dividirem tais desejos com ninguém, preferiram partir sozinhos, levando apenas cães não-falantes. O espírito que os observava avisou a feiticeira branca, que se dirigiu a um bosque, onde Juvenal e Soraia descansavam.

Jadis se aproximou e disse: – são os poderosos reis de Nárnia? Soraia assustou-se e indagou: – Quem é você? Jadis disse que era uma grande admiradora dos grandes reis de Nárnia e que era uma pena eles não terem o poder supremo sobre o país. Juvenal se alterou e gritou: – Como não temos o poder supremo? Somos os legítimos reis de Nárnia, descendentes de Franco I. Jadis se lembrou do rei Franco e pensou que deveria tê-lo matado ainda quando ele era um insignificante cocheiro na Inglaterra. Mas logo se recompôs e disse: – Acalme-se grande rei. Eu apenas estava refletindo que você nunca será o mais poderoso em Nárnia enquanto o seu país estiver subordinado ao Leão Aslam. Juvenal retrucou que Aslam há muito não aparecia em Nárnia e, além do mais, ele e seus antecedentes foram nomeados pelo próprio Aslam para o reino. Jadis então retrucou: – você não entende? Enquanto ele for o que te colocou no reino, ele estará sobre você, mas você poderá superá-lo. A idéia de superar Aslam nunca tinha ocorrido a Juvenal, mas os olhos de Soraia brilharam, enquanto pensava: – Se derrotarmos Aslam, não seremos apenas os reis de Nárnia, seremos os deuses de todo o mundo. Ela então perguntou: Como poderíamos fazer isso? Jadis respondeu: Há uma árvore em Nárnia que dá todo poder a Aslam: a grande árvore sagrada. Contudo, se ela for queimada, Aslam não terá mais qualquer poder e vocês serão grandes deuses, aqueles que libertaram Nárnia da opressão do Leão.

Jadis desapareceu e deixou o casal pensativo. Juvenal estava indeciso, pois sempre ouviu falar que a árvore protegia o país, mas Soraia reagiu com intrepidez: – Toda história que nos contaram sobre a árvore era apenas uma lenda que o Leão espalhou para manter seu poder. Vamos destruí-la. Juvenal ainda tinha dúvidas, mas como não negava nada a sua amada, partiu para cumprir a missão.

Ao verem os reis se aproximarem, os cães falantes que guardavam o bosque onde Digory havia plantado a árvore estranharam, mas receberam ordens do rei para deixá-lo passar. Juvenal dispensou os cães, afirmando que ele e a rainha pretendiam estar a sós, fazendo orações junto à árvore sagrada. Os cães, que se revezando em turnos, jamais haviam abandonado a árvore, se assustaram com tal ordem, porém como sempre foram fiéis aos reis de Nárnia, obedeceram.

Ao se verem sozinhos, rapidamente os reis espalharam um líquido inflamável no tronco e na raiz da árvore e atearam fogo. Já de longe, os cães viram o incêndio no bosque e pensaram em voltar, mas já não havia muito a fazer. Dingo, o líder dos cães, se dirigiu então para Cair Paravel e levou a notícia do que fizeram os reis à casa real.

Ao chegar ao palácio e anunciar a tragédia, Dingo viu o príncipe Rafael e a princesa Carolina – irmãos do rei Juvenal – chorarem amargamente dizendo: – foi-se a proteção de Nárnia. Logo o centauro Passo-lento, que era um grande sábio afirmou: – existe uma profecia muito antiga que diz: quando a árvore sagrada já não mais existir, então ela não poderá mais ser plantada no território de Nárnia. Neste dia, deverão ser construídos quatro tronos em Cair Paravel, os quais serão ocupados por quatro reis que virão libertar Nárnia. Após construírem os tronos, todos os que estiverem no palácio devem fugir para fora das imediações de Nárnia.

Rafael mandou que os anões fizessem os quatro tronos, mas disse que esperaria o irmão voltar antes de fugir. Certamente ele teria uma explicação. O centauro, entretanto, disse que eles deveriam se apressar, pois não haveria mais tempo a perder. Sem saída, os príncipes e toda a corte deixaram o palácio e se dirigiram até a casa do centauro Olhos-de-justiça, o grande profeta que vivia em um bosque nas regiões meridionais de Nárnia.

Entrementes, o rei e a rainha voltaram ao palácio e espantaram-se de encontrá-lo abandonado. Logo, porém, olharam para o céu e viram a grande águia Alegria que se aproximava. Nem bem havia pousado, a águia disse aos reis: – Nárnia está sendo destruída. Uma grande feiticeira branca, à frente de um exército de ogres, bruxas e outras criaturas más, invadiu Nárnia a partir do norte e arrasou os exércitos reais que estavam naquela região, vindo das batalhas contra os gigantes do norte. Alguns estão mortos, outros foram transformados em estátuas pela vara da feiticeira e outros se renderam a ela.

O rei ficou furioso e disse: – então aquela mulher nos enganou. Ela só queria que a proteção fosse removida para que ela pudesse invadir nosso país. Alegria, reúna os exércitos que vamos combatê-la. Mas a águia respondeu triste que não havia mais exércitos. A maior parte havia sucumbido na batalha do norte e os outros fugiram para o sul.

Revoltado, o rei correu para dentro do palácio e a rainha o acompanhou. Ao entrarem em um grande salão, viram quatro grandes tronos e se depararam com um leão que estava de costas. Era o maior leão que eles já haviam visto e eles entenderam que estavam diante do grande Aslam. O leão voltando-se disse: – um grande mal vocês fizeram, oh reis de Nárnia. Por vossa causa a terra de Nárnia se tornou maldita e jamais a grande árvore poderá ser novamente plantada dentro dos limites do país. Além disso, vocês mancharam a honra da dinastia de Franco e jamais um rei desta dinastia poderá ocupar novamente o trono de Nárnia. O mal chegou e conquistou o país e durante muitos anos Nárnia estará sobre sua égide, até que estes quatro tronos estejam ocupados por dois filhos de Adão e duas filhas de Eva. Quanto a vocês dois, serão banidos de Nárnia e nunca mais voltarão a vê-la. Aslam soprou fortemente e Juvenal e Soraia foram lançados em uma ilha deserta, onde viveram até sua morte. Nunca mais se ouviu falar deles em Nárnia.

Aslam se dirigiu ao pátio do palácio, onde encontrou a águia Alegria em grande tristeza. Ordenou então a ela que voasse para o sul, onde encontraria os príncipes e muitos animais falantes, anões, faunos e outras criaturas narnianas reunidas em uma grande clareira, próxima à casa do centauro Olhos-de-justiça. Lá ela deveria transmitir a seguinte mensagem: todos devem se dirigir para o sul, para além dos limites de Nárnia, depois do Pico da Tempestade, onde deveriam plantar a árvore sagrada, a partir das sementes que haviam sido guardadas pelo centauro. Ali eles fundariam o Reino da Arquelândia.

Rafael e Carolina, acompanhados pela corte real e por muitos homens e criaturas narnianas que se juntaram a eles no caminho, chegaram à casa do grande profeta. Enquanto estavam sentados à mesa, fazendo uma refeição à base de ovos, sardinhas fritas, bolos de passas, batatas assadas e passadas na manteiga, cerveja e leite cremoso, viram chegar centenas de homens, anões, faunos, centauros e animais falantes, fugindo do norte. A multidão se aglomerou à porta da casa, esperando uma direção vinda do profeta ou dos príncipes. Olhos-de-justiça, tomando a palavra disse: – Esta noite, Aslam me apareceu em sonhos e me disse que deveríamos estar reunidos na grande clareira do bosque que está entre o Rio Veloz e o Gramado da Dança, pois ali receberíamos instruções.

Partiram então levando todos os suprimentos que podiam e levando também as sementes da árvore sagrada que o centauro mantinha conservadas em sua casa, pois sabiam que não poderiam voltar para buscar nada.

Após tomar todo o norte de Nárnia, a feiticeira e seu exército partiram para o Palácio de Cair Paravel, a fim de exterminar toda a descendência real. Ao chegarem, encontraram o palácio vazio e abandonado. A feiticeira ordenou que um dos espíritos fosse atrás dos fugitivos. Entrou na sala real e destruiu os tronos dos reis Juvenal e Soraia e depois se dirigiu à uma outra sala e viu quatro tronos novos, recentemente construídos, Decidiu também destruí-los, mas ao se aproximar dos tronos, viu entrando pela porta do grande salão, um enorme leão. Ela sabia bem quem era aquele leão e, então, preferiu fugir por uma outra porta lateral e não quis mais se aproximar daquela sala. Foi para o pátio e ordenou que ateassem fogo ao palácio. Uma feiticeira retrucou se ela não pretendia utilizar aquele palácio para o seu reino. Jadis disse que aquela não era uma casa digna dela e que ela construiria outro castelo.

Atearam pois fogo ao palácio, mas o fogo apagou-se em seguida. Aumentaram a quantidade de líquido inflamável, mas o fogo também não prevaleceu. Por fim, Jadis e as feiticeiras uniram seus poderes mágicos para invocar um grande fogo, todavia também não conseguiram. Jadis então reconheceu que era grande a magia daquele lugar e decretou que aquele palácio deveria permanecer abandonado para sempre e colocou vários ogres de guarda no caminho, a fim de que ninguém se aproximasse de Cair Paravel.

Chegaram todos à grande clareira e o profeta tomou a palavra: – Sabemos que nosso país sucumbiu diante das piores criaturas de nosso mundo. E sabemos pelas antigas profecias que muito tempo durará o governo da Feiticeira Branca. Mas uma outra profecia diz que um dia, vindos de um lugar distante, quatro crianças chegarão à Nárnia e destruirão o reino da feiticeira. Quando elas se sentarem nos quatro tronos que estão em Cair Paravel, se iniciará o período mais glorioso da história de Nárnia.

Estava ele ainda falando quando, ao olharem para o céu, viram se aproximando uma águia voando velozmente em direção da reunião. Era Alegria e, após parar a fim de tomar ar, transmitiu a mensagem de Aslam. Ela contou ainda o que aconteceu com os reis de Nárnia.

O centauro então afirmou: – não temos tempo a perder. Vamos seguir as instruções de Aslam. O nosso rei nos traiu e recebeu o que seu ato mereceu. Devemos então passar a liderança ao príncipe Rafael e coroá-lo rei da Arquelândia. A maioria dos homens, animais e outras criaturas aplaudiram a decisão, mas Cravo, o líder dos anões de Nárnia discordou e respondeu aos gritos: – Não basta o que o irmão dele fez! Não nos submeteremos mais aos filhos de Adão! Além do mais, nem sabemos se foi mesmo Aslam quem mandou a Águia. Nós anões voltaremos e faremos um acordo com a feiticeira. Quem for narniano que nos siga.

Imediatamente, a maior parte dos anões seguiu Cravo. Alguns animais também resolveram voltar, mas não por não aceitarem a liderança de Rafael, e sim por acreditarem que Nárnia era o país deles e que deveriam lutar por ele. Olhos-de-justiça ainda tentou persuadi-los, afirmando que aquele não era um bom momento, contudo, um dia, eles ou os seus descendentes voltariam a habitar em Nárnia. Rafael, que até então permanecera em silencia, disse: – Não imporemos nossa vontade a ninguém. Eu, minha irmã Carolina e Olhos-de-justiça partiremos neste momento rumo ao sul. Quem quiser nos seguir que o faça. Os demais retornem às suas casas e que a feiticeira seja misericordiosa com estes.

Partiram então o príncipe, a princesa, toda a corte real, todos os cães falantes, a maioria dos centauros, muitos faunos e um sem número de outras criaturas – animais falantes de diversas espécies, paulamas e até alguns anões. Voltaram também muitos animais, dentre eles todos os lobos, que eram liderados por Curvel, que esperava ganhar alguma vantagem com a nova rainha.

Jadis havia escravizado vários dos animais e outras criaturas e alguns destes escravos receberam a incumbência de construir um grande castelo, entre duas colinas, para a residência da feiticeira. Quem se recusava a servi-la ou era morto, ou era transformado em estátua. Ela coordenava a construção, quando um dos espíritos chegou e disse que não encontrara a família real. Ele havia seguido uma pista até a casa do Centauro, mas eles não estavam mais lá. Seguiu várias pegadas até uma grande clareira, mas eles já haviam deixado o lugar. Continuou seguindo rumo ao sul, mas alguma magia poderosa o fez perder a pista.

Jadis ficara furiosa, mas antes mesmo de disparar seus gritos de raiva, viu aproximarem-se um grupo formado por anões e lobos. O primeiro a falar foi Cravo, que colocou o seu exército de anões a serviço da nova rainha. Curvel também afirmou que os lobos falantes seriam aliados da grande feiticeira. Jadis iria recusar, mas se lembrou que os anões eram grandes construtores e que os lobos poderiam ser poderosos espiões. Disse então que os anões seriam seus serviçais diretos, cuidando da construção do castelo e de sua manutenção. Os lobos formariam a sua polícia secreta.

Jadis então resolveu interrogar os anões e lobos para saberem o destino da família real. Cravo contou todo o relato das profecias e da mensagem da águia. Ele então ordenou que seu exército de ogros e feiticeiras partissem imediatamente para o sul e destruísse todos os fugitivos, principalmente seres humanos. Ao ouvir de um ogro que eles estavam bem na frente e não poderiam alcançá-los, ela retrucou que iria dar um jeito de atrasá-los, bastava que seu exército partisse já e preparado para caminhar em um rigoroso inverno. O ogro afirmou que era verão em Nárnia, mas Jadis afirmou que não seria mais, nunca mais.

Rafael e seus seguidores seguiram viagem rumo ao Pico da Tempestade. Estavam tranqüilos por acharem que os exércitos da feiticeira ainda estavam no norte. Durante o caminho, entretanto, sentiram que estavam sendo seguidos, porém sem ver quem os seguia. Rafael percebeu que as pegadas dos animais os deixavam totalmente expostos, mas não falou nada para não trazer mais preocupações. De repente, entretanto, se assombrou terrivelmente, ao olhar para trás e ver que as pegadas sumiam assim que eles passavam. Aslam está conosco, disse ele, mostrando o fenômeno a todos os que estavam com ele.

Caminhavam animadamente, contando histórias de Nárnia: de Lorde Digory e de Lady Polly, que a centenas de anos, salvaram Nárnia com a ajuda do cavalo alado Pluma. Do grande Rei Franco I, do rei Furacão e a libertação das Ilhas Solitárias. Da bela rainha Cisne Branco, das caçadas ao Veado Branco. Carolina perguntava ao irmão se ele achava que as quatro crianças seriam descendentes deles, mas Rafael respondeu com tristeza que sua dinastia estava riscada do Reino de Nárnia e que aquelas crianças não poderiam ser seus descendentes. Ao ver uma lágrima caindo no rosto da irmã, Rafael animou-a dizendo: – Contudo, seremos para sempre reis na Arquelândia e quando Nárnia voltar a ser o que sempre foi, nossos reinos serão aliados eternos.

Chegaram à região montanhosa e perceberam que a neve caía ininterruptamente. Rafael perguntou ao profeta se era sempre assim naquelas montanhas, mas o centauro respondeu que isso nunca acontecia no verão e que estavam sendo vítimas de algum encantamento misterioso. O caminho tornou-se cada vez mais árduo. Sem agasalhos, e sem equipamentos ou mesmo sapatos para caminharem na neve, a jornada ficou bastante lenta e perigosa. Mas eles permaneceram caminhando, pois acreditavam em Aslam e no seu sonho.

Com grandes dificuldades ultrapassaram o Pico da Tempestade e entraram por uma passagem à esquerda das montanhas do Anvard. Ainda comemoravam a passagem pelo pico, quando viram a sua frente três seres espirituais aterrorizantes que lhes fechavam a passagem. Olharam para trás, mas viram grandes trenós, puxados por renas e sobre os mesmos as piores criaturas que eles já haviam visto. Estavam cercados e alguns dos animais falantes começaram a murmurar queixando-se por não terem voltado à Nárnia quando tiveram oportunidade. Levantaram-se contra o príncipe e o centauro, reclamando que estavam com fome, que a tal terra prometida jamais chegava e que iriam morrer naquelas montanhas pelas mãos dos poderosos espíritos ou do exército que os perseguia por trás. Olhos-de-justiça mandou que parassem de blasfemar e que Aquele que os havia guiado até ali era fiel para os levarem até o final da jornada. Olhou para os espíritos e bradou em alta voz: – Vão-se embora em nome de Aslam. Os espíritos tremeram e fugiram. Jamais voltaram àquelas regiões.

Dispuseram-se a correr em direção a leste, onde ficavam as terras do novo reino, segundo as instruções de Aslam. Os ogres e as feiticeiras viam em seu encalço, quando de repente, um grande bloco de pedra soltou-se do alto de uma montanha, colocando-se entre uns e outros. Carolina jurava ter visto um leão enorme no alto daquela montanha. Olhos-de-justiça afirmou: – Fomos ajudados pela providência. Sigamos pois em frente, antes que eles ultrapassem a barreira natural.

Chegaram a uma bela terra, em um vale cheio de frutos, com grandes lagos de águas cristalinas. Ali agradeceram a Aslam por os terem guiado pelo caminho e pelo encantamento da feiticeira não prevalecer naquele lugar.  A primeira coisa que fizeram foi plantar ali a árvore sagrada. Ao sentirem o perfume da árvore, as feiticeiras e os ogres retornaram para Nárnia e jamais transpuseram a fronteira entre os dois países.

Em Arquelândia, Rafael foi coroado rei e se casou com Luana, uma prima de terceiro grau. Construíram uma grande fortaleza e muitas casas. Viveram ali muitos anos tranqüilos, que só não eram mais felizes, porque alguns fugitivos de Nárnia que buscavam refúgio na Arquelândia traziam as piores notícias: os homens restantes foram todos exterminados, os animais são escravizados e se revoltam-se, são transformados em estátuas. A rainha promulgou um edito real, segundo o qual qualquer pessoa que ver um humano, deve prendê-lo e entregá-lo a ela, sob pena de também ser transformado em estátua. Em Nárnia é sempre inverno, não há mais festas, nem danças, nem natal – o aniversário de Aslam. Muitos já morreram fugindo para o sul, outros estão encarcerados no castelo da feiticeira. Alguns ainda resistem, escondidos no bosque, mas a maioria não tem mais forças para lutar e se rendem à feiticeira.

Cem anos se passaram e a Arquelândia estava em festa. Era o dia da coroação do jovem rei Luna, quarto da linhagem de Rafael I, o conquistador da Arquelândia. Algumas crianças brincavam no pátio do palácio quando viram se aproximar uma grande águia. O pequeno Rui foi correndo avisar Lorde Darin, o braço direito do rei. Darin correu para fora e viu que era a águia Olhos-fortes, a principal informante das coisas de Nárnia na Arquelândia. Olhos-fortes tinha ligações com a resistência narniana, que por essa época, vivia escondida próximo ao Dique dos Castores e era apoiada secretamente pelo governo da Arquelândia.

Darin pediu ao menino Rui que fosse buscar o rei. Luna veio rapidamente e com ele vieram os nobres e rainha Margareth carregando os gêmeos Cor e Corin. – Trago boas e más notícias – disse a águia. – Um fauno chamado Tumnus encontrou uma menina humana, que viera de outro mundo e tem uma irmã e dois irmãos. – a profecia! – exclamou o rei. Mas a águia continuou: – o fauno iria fazê-la adormecer e entregá-la à feiticeira, mas acabou se afeiçoando à menina e ajudou-a a voltar para casa. Só que a rainha descobriu e mandou prender o fauno. Ninguém sabe onde ele está.

O rei Luna mandou chamar o centauro Grandes-passos, descendente direto do grande profeta Olhos-de-justiça e lhe relatou a história da águia. Grandes-passos consultou os livros do avô e viu gravado ali uma profecia, segundo a qual, quando as crianças chegassem à Nárnia, vários sinais confirmariam sua chegada e então, todos os animais falantes, anões, faunos, centauros, paulamas e outras criaturas narnianas deveriam retornar ao seu país, pois lá era o seu lugar. Os humanos, porém, deveriam continuar na Arquelândia, pois agora este era o país da descendência de Franco. Eles poderiam voltar a Nárnia, depois que os novos reis fossem coroados, mas só a passeio. Não poderiam mais morar em Nárnia.

Luna se entristeceu, mas disse que a vontade de Aslam deveria ser feita. Aguardariam os sinais e todos, menos os humanos, partiriam para Nárnia.

Três dias depois, um eremita, que vivia próximo à Arquelândia e que era muito respeitado ali, chegou ao país de Luna com grandes notícias: – Como sabem, em minhas terras, existe um tanque onde eu, olhando para as águas, posso ver as coisas acontecendo em muitos lugares. Eu vi três crianças andando com dois castores nas florestas de Nárnia. Vi também a neve derretendo e a primavera brotando naquele país. Ainda vi mais uma coisa: criaturas narnianas comemorando o natal nas florestas. Luna se perguntava porque eram três as crianças e não quatro, mas compreendeu que a quarta deveria estar por perto sem ser vista pelo Eremita. Entendeu, desta forma, que eram os sinais e deu ordens para que todos os que não fossem filhos de Adão e Eva se preparassem para partir.

No dia seguinte, enquanto os preparativos eram feitos, a águia Olhos-fortes voltou à Arquelândia e disse que Aslam havia aparecido para um centauro em Nárnia e convocou uma reunião na grande mesa de pedra. Era o último sinal. Sob a liderança de Grandes-passos, uma grande caravana de animais falantes, anões, faunos e outras criaturas se despediram dos homens da Arquelândia e partiram. Foi um momento de grande emoção. A tristeza de amigos dos dois lados que se separavam juntou-se à euforia da volta para casa, cem anos depois.

O rei Luna, ainda muito triste por não poder ir com os outros e ainda pela separação dos amigos, se fechou sozinho no seu quarto e adormeceu. Poucos minutos depois acordava com uma voz que o chamava. Ao abrir os olhos, viu um leão muito maior do que todos os que ele já havia visto. Numa mistura de assombro e admiração, ele permaneceu em silêncio, enquanto o leão falava: – Luna, grande descendente de Franco I, sou Aslam, o guia dos seus pais no passado. Sei que estás muito triste por não poder voltar a Nárnia agora. Um de seus antecedentes, o rei Juvenal, cometeu um grande erro e trouxe maldição sobre toda a Casa de Franco. Não mais poderão reinar em Nárnia. Mas por causa da fidelidade do rei Rafael a mim, eu decretei que sua descendência sempre governará sobre a Arquelândia. E, assim que a profecia se cumprir e os quatro tronos de Cair Paravel estiverem ocupados, haverá paz e amizade eterna entre os dois reinos e tu e teus descendentes poderão sempre ir à Nárnia visitar os grandes reis. Agora, rei Luna, levante-se, pois um grande exército, vindo da Calormânia, marcha contra a Arquelândia para conquistá-la e depois invadir Nárnia. Só que eles não prevalecerão, tu e teus exércitos os derrotareis. Defenderás a Arquelândia e também Nárnia destes homens do mal.

Preocupado, mas com grande alegria por ter visto e ouvido Aslam, O rei Luna saiu do quarto e deu ordens para Lorde Darin e o seu irmão Lorde Dar para que preparassem as tropas, pois um grande exército marchava contra a Arquelândia. Os dois estranharam o rei trazer tal notícia do quarto, sendo que ele não havia se referido a isso antes.

A estratégia de batalha foi definida: Lorde Dar e seus homens iriam se esconder em um ponto na saída do deserto que vem do sul, da Calormânia. Atacariam os retardatários do exército inimigo, que estariam mais cansados da viagem pelo deserto. Lorde Darin iria com outro terço do exército e se esconderia mais a norte, aguardando um sinal. O rei Luna permaneceria na fortaleza com seus homens aguardando. Tudo pronto, os dois terços partiram para suas posições.

Na manhã seguinte, um mensageiro de enviado por Lorde Dar, veio à Arquelândia com a notícia de que o exército calormano havia passado, mas que Lorde Dar e seus homens haviam provocado grandes baixas na retaguarda daquele exército e que voltara a esconder-se até receber um sinal para voltar.

Os calormanos chegaram até as portas da Arquelândia e se preparavam para derrubá-las com aríetes. Só que ao aproximarem-se das portas, enfrentaram as fechas lançadas pelos arqueiros de cima do muro. Os calormanos recuavam e horas depois tentavam novamente, mas foram perdendo muitos guerreiros. Quando o rei Luna percebeu o enfraquecimento das tropas calormanas, enviou um sinal à Lorde Darin, para que este voltasse e atacasse os calormanos pelas costas. Quando viram as tropas que vinham do norte, os calormanos se voltaram para defender-se, mas o rei Luna e seus homens saíram da cidade e os atacavam pelo outro lado. Os calormanos perceberam que estavam cercados e perdidos e decidiram fugir. Foram, todavia, perseguidos pelos homens de Luna e de Darin e sofreram muitas baixas. Quando se aproximavam do deserto, foram novamente surpreendidos, agora pelo exército de Lorde Dar, que impuseram a derrota final aos calormanos. Estes voltaram para seu país, humilhados e enfraquecidos.

As águias, que sempre são as primeiras a saberem das batalhas, principalmente quando há grandes matanças, enviaram um mensageiro aos animais que vinham da Arquelândia para Nárnia e avisarem que aquele país estava sendo atacado. Grandes-passos ficou assustado e convocou uma reunião para saber se voltariam para ajudar o rei Luna, mas logo um fauno disse: – A ordem para nós fosse seguir para Nárnia. Não podemos retornar. Os homens da Arquelândia saberão defender o seu país. Os outros acabaram por concordar, mas ainda estavam grandemente preocupados com o destino do país onde nasceram e para onde haviam se refugiado seus antepassados. No dia seguinte, entretanto, outra águia veio com a notícia de que os exércitos calormanos haviam sofrido uma grande derrota e proporcionado um grande banquete para todas as aves de rapina. Todos ficaram felizes e disseram: é o grande sinal de que Aslam está do nosso lado e que também triunfaremos contra a feiticeira aqui.

Os animais da Arquelândia chegaram à grande reunião da Mesa de Pedra e lá estavam muitos componentes da resistência de Nárnia. Lá também viram Aslam e depois viram chegar, trazidos por dois castores, as três crianças prometidas. Esta história continua no livro O Leão, a feiticeira e o guarda-roupa.

Já o rei Luna viveu feliz na Arquelândia, até o dia em que uma grande desgraça atingiu sua família: seu filho Cor, o primogênito dos seus gêmeos e herdeiro do trono foi seqüestrado e levado para longe. Mas esta história não termina aqui. Ela continua no livro O Cavalo e seu menino.

[1] Baseada nas Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis, esta história se passa no período entre os livros “O Sobrinho do Mago” e “O Leão, a feiticeira e o guarda-roupa”.

[2] História contada no livro “O Sobrinho do Mago” de C. S. Lewis.

[3] As histórias do rei Furacão e da Rainha Cisne Branco foram contadas no livro A última batalha.

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