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CONTO A FILHA DE JAIRO

Por Pr Elton Gomes Lucas

Estamos em Cafarnaum na Galileia ocupada pelos romanos, no primeiro século de nossa era. Ali encontramos nosso personagem: o respeitado Jairo, Principal da sinagoga, o local de reuniões dos religiosos judeus. O Principal ou Dirigente da sinagoga era a pessoa responsável por dirigir os cultos, selecionar os participantes e manter a ordem. Era também ele que celebrava os casamentos, decretava os divórcios, interpretava a lei e julgava as questões entre o povo. Era, portanto, uma pessoa de grande destaque entre os judeus, uma figura pública altamente respeitada na sociedade de sua época.

Jairo gostava de seu trabalho. Conhecedor das Escrituras e do ensino dos Rabis do passado, havia alcançado a posição de honra por méritos e tal posição não fora questionada por nenhum de seus pares. Além disso, amava sua esposa e tinha verdadeira adoração por sua Raquel, a filha única, de doze anos. A alegria a chegar em casa e ser recebido pelos abraços de Raquel, superavam a decepção de não ter podido ter mais filhos e de não ter um herdeiro do sexo masculino.

De manhã, Jairo levantava e após sentar-se à mesa com a família, beijava a esposa e a filha e ia para a sinagoga de Cafarnaum. Lá iniciava suas tarefas, supervisionando o patrimônio, verificando o trabalho dos operários responsáveis pela reforma em andamento. Dali a pouco chegavam aqueles que por decisão do próprio Jairo poderiam participar do culto. Aquele teria sido um dia como outro qualquer, não fosse a notícia que lhe foi trazida por Ananias, um de seus auxiliares.

Segundo Ananias, um profeta e rabi da vizinha Nazaré estava morando na cidade e alguns de seus milagres vinham ganhando fama. Assim, pessoas de outras cidades começavam a afluir para Cafarnaum, a fim de ver o tal milagreiro.

A princípio, Jairo não se preocupou muito, pois de vez em quando aparecia por ali algum líder religioso e alguns o seguiam. Todavia, logo ele desaparecia e também sua fama. Mas o tempo foi passando e cada vez mais gente seguia aquele novo mestre.

Jairo decidiu investigar de perto tal homem e, de forma oculta, passou a observá-lo em sua atuação nos arredores. O que ele via, cada vez mais o assombrava: cegos viam, surdos ouviam, coxos andavam e o que era mais inacreditável: homens depravados, prostitutas, publicanos e outras pessoas que vinham da pior espécie da sociedade se juntavam àquele líder e mudavam de vida completamente.

Havia em Jairo um misto de ciúmes, por aquele líder estar atraindo tanta gente; de assombro, pelos milagres que ele via e de raiva, porque aquele líder não se reportava a ele e nem buscava sua permissão para fazer o que fazia. Além disso, interpretava as leis de sua maneira, sem citar os rabinos do passado e, por isso, muita gente na cidade dizia que ele ensinava com autoridade e não como os outros rabinos – Jairo incluído.

O que acabou piorando a situação foi o fato daquele rabi começar a frequentar a sinagoga, a ensinar, a curar enfermos até nos sábados. Tal atitude começou a irritar os judeus e a fazer com que estes passassem a pressionar Jairo para que fizesse alguma coisa para impedir a ação daquele “falso profeta”. O problema era que Jairo não sabia o que fazer, pois tudo o que o tal Jesus fazia trazia benefícios às pessoas.

A fama daquele sujeito se espalhou e agora, das cidades vizinhas, multidões vinham para ouvir seus ensinamentos, trazendo enfermos que eram curados e até pessoas endemoniadas que eram libertas. A situação se agravou quando aquelas notícias chegaram até Jerusalém e de lá foram enviados homens da parte do sumo-sacerdote e até do Rei Herodes, para investigar o milagreiro. Aquilo foi a gota d’água para Jairo: então ele, o Chefe da Sinagoga, o líder dos judeus de cafarnaum, não poderia resolver o problema sozinho? A resposta é que não poderia, pois não sabia o que fazer.

Enquanto assistia o Nazareno derrotar os questionadores fariseus e herodianos, a admiração de Jairo por aquele homem aumentava. Agora ele já não observava mais de longe. Se disfarçava e se misturava à multidão dos seguidores, cada vez mais atônico com a obra de Jesus. A esta altura, já se discutia entre o povo se aquele não seria o Messias. Jairo não aceitava tal proposição: onde já se viu um messias pobre, nazareno e que andava com pescadores e, pior, comia com publicanos e pecadores, porém, como explicar suas obras.

As histórias se multiplicavam: Um paralítico havia sido descido por cordas através do telhado da casa de Jesus e colocado aos seus pés. Foi curado e saiu andando, mas os judeus questionaram o milagre porque Jesus havia perdoado os pecados do paralítico, como se fosse Deus. Da região gentílica chegava a notícia de um homem possesso por demônios que vivia nos sepulcros e tinha sido liberto. Entre os discípulos mais próximos do Mestre comentava-se que ele podia dar ordens ao vento e ao mar e era obedecido. De Naim a notícia mais extraordinária: o filho de uma viúva teria sido ressuscitado por Jesus. Jairo não sabia no que acreditar, mas não podia negar os milagres que ele mesmo havia presenciado. Milagres ocorridos com pessoas que ele conhecia.

Um dia Jairo deparou com o centurião da cidade. Aquele homem era um bom amigo dos judeus, amava sua nação e gozava do apreço de Jairo, pois fora o responsável pela construção da Sinagoga, que agora era presidida por Jairo. Jairo tentou conversar com ele, mas o mesmo estava transtornado e parecia apressado. Ao ser indagado sobre o porquê de tanta aflição, aquele homem respondeu: tenho um servo muito amado e ele está com uma enfermidade terrível, restam-lhe poucos dias de vida. Jairo se ofereceu para buscar um médico amigo, mas o homem disse que os melhores médicos, judeus e romanos, já haviam tentado de tudo e já haviam desistido. Ao que Jairo perguntou: Onde então você vai tão apressado? O centurião respondeu: – tentar o último recurso: Jesus o Nazareno.

Diante daquela reposta, Jairo paralisou. Não sabia se o incentivava e dizia ter presenciado muitos milagres daquele profeta, ou se repetia o que os seus pares na Sinagoga ficavam dizendo: que era um homem pecador, que pregava contra a Lei de Moisés, que expulsava demônios por Belzebu… Preferiu não dizer nada e se despediu do centurião. Mais tarde, recebeu a notícia de que o servo do centurião havia sido curado e sem que Jesus sequer fosse à sua casa. Ele só deu uma ordem e o enfermo foi restaurado na mesma hora. Agora os milagres de Jesus não eram propagados só pelos pobres, pela escória da sociedade, mas também por uma grande autoridade de Cafarnaum.

Naquele dia, Jairo chegou em casa e não foi recebido por Raquel, como acontecia todos os dias. Preocupado procurou pela filha que estava acamada em seu quarto ao lado da mãe e do escravo médico. Dois dias se passaram e a menina não melhorava. Os melhores médicos foram trazidos e ninguém conseguia curá-la. Jairo começou a se desesperar. Orava seguidamente, dizia a Deus que era um bom homem, religioso, cumpridor de seus deveres para com Deus e o povo e não merecia o que estava acontecendo, não podia perder sua filha única, sua grande alegria. Que Deus então o levasse em lugar da filha. Nada resolvia. Raquel piorava a cada dia e os médicos desistiram da cura.

Desesperado, Jairo começou a correr pelas ruas a perguntar onde estava o profeta de Nazaré. As pessoas não sabiam o que responder, pois pensavam que o Chefe da Sinagoga ia prender o profeta. Jairo continuou a correr quando deparou com uma multidão seguindo o tal messias. Quando se aproximava, os discípulos se preocuparam dizendo: – não é o homem que vive repreendendo o mestre na sinagoga, por fazer o bem aos sábados. Não deixemos que ele se aproxime do mestre. Jesus, entretanto, os repreendeu afirmando: – Não vê que a alma daquele homem está profundamente angustiada. Deixem que ele venha.

Jairo passou pela multidão e caiu chorando aos pés de Jesus, implorando que este fosse com ele e curasse sua filha única. Jesus concordou em ir e a multidão o seguiu. No caminho o mestre parou e disse que tinha sido tocado. Os discípulos retrucavam dizendo que toda uma multidão estava apertando o mestre. Ele, porém, ressaltou que tinha sido um toque diferente, pois poder havia saído dele. Uma mulher aproximou-se e disse que tinha sido ela. Jairo decidiu prendê-la, pois sabia que a mesma tinha uma hemorragia constante e era imunda cerimonialmente, assim ao tocar o mestre, além de atrasá-lo para curar sua filha, ainda tinha o tornado imundo e Ele podia não ter mais como curar Raquel até sua purificação. Mais antes que Jairo agisse, a mulher disse que seu fluxo havia parado imediatamente ao tocar as vestes do Senhor e este lhe disse que fosse em paz, pois sua fé a tinha curado.

Seguiram pois o caminho, todavia alguns homens vieram da casa de Jairo e lhe recomendaram que não incomodasse mais o mestre, pois sua filha havia morrido. Jesus, entretanto, lhe disse: não se preocupe, apenas creia. Jairo, sem saber o que fazer, lembrou-se da história do filho da viúva. E se fosse verdade? Continuou com Jesus o caminho até sua casa. Lá chegando, deparou com uma grande turba chorando pela menina, além de flautistas tocando pelo falecimento. Jesus disse que a menina não estava morta, só dormia e todos riram dele. Ordenou então que todos ficasse de fora, entrando no quarto só com os pais da menina e três de seus discípulos. Diante do leito ele ordenou em aramaico: – Talita Cumi, que traduzido é: menina, a ti digo, levante-se.

Raquel abriu os olhos e sorriu. Jesus lhe disse que ela fosse alimentada. Jairo queria recompensá-lo. Pagar alguma coisa. Mas o mestre se recusou a receber qualquer presente.

A partir desse dia, Jairo passou a seguir Jesus, primeiro secretamente, depois de forma pública, até ser expulso da Sinagoga. Acompanhou de longe as notícias de seus milagres, da multiplicação de pães e, depois de sua prisão e crucificação. Decretou luto em sua casa e chorou durante vários dias. Um dia recebeu uma notícia estarrecedora: o tal Jesus que havia sido crucificado em Jerusalém, fora visto por algumas pessoas e dizem que Ele ressuscitara. Os judeus haviam desmentido a história, dizendo que seus discípulos tinham roubado o corpo. Jairo sabia, contudo, que era verdade. Ele tinha visto sua filha voltar à vida. Ele tinha testemunhado o milagre da ressurreição. Ele precisava ver o mestre. Mas onde encontrá-lo?

Novas notícias chegaram: Jesus e seus discípulos haviam sido vistos na Galiléia, mas agora seguiam para Betânia, perto de Jerusalém. Jairo se aprontou para a viagem e rapidamente partiu para os arredores de Jerusalém. Chegou a pequena aldeia de Betânia e se dirigiu ao lugar onde diziam que Jesus estava com os discípulos. Chegou a tempo de ver o Mestre ser levado às alturas e sumir no meio das nuvens. Em seguida, viu os anjos que anunciaram que Ele voltaria. Encontrou Tiago, um dos discípulos que estiveram no quarto da filha e este o convidou para estar com eles em Jerusalém. Jairo, todavia, agradeceu e decidiu voltar para Cafarnaum, onde começou uma igreja cristã em sua casa. Morreu já velho e sem recuperar o respeito das autoridades judaicas, mas feliz por ter encontrado o senhor de sua vida.

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